(créditos da foto: Liu Zishan)
Lembro a primeira vez que joguei RPG, foi na modalidade funil, cada jogador com cinco personagens, com armas inapropriadas para defesa, e profissões duvidosas que impactavam na história de forma muito divertida e intrigante, dando características incríveis a eles. Estava muito empolgada com a criação dos personagens e suas histórias de vida, compartilhando com as outras pessoas do grupo as histórias de seus personagens também, fazendo com que antes mesmo de começar a partida, o entrosamento entre os jogadores estivesse estabelecido, este que acredito ser o essencial para o jogo fluir, tornando tudo muito mais divertido. Jamais participei de uma mesa muito séria e Deus me livre!
Me lembro de não ficar muito insegura, ver os outros jogarem me passava confiança e foram sempre muito compreensivos com a minha confusão de iniciante. Dentre cinco personagens, alguns ficaram para a memória, como meu ladino Esperto, que foi o único a sobreviver no final do jogo e os irmãos caipiras do Katz (co-autor da Arcana Primária), que tinham uma personalidade muito engraçada. A história em si caminhava para a aniquilação de todos os personagens, cada um que morria fazia a jornada ficar mais difícil porém mais divertida.
Eu particularmente adoro as decisões inusitadas e criativas ao contornar uma situação de perigo extremo no jogo. A gente se une quando um dos personagens está em situação difícil e tenta solucionar e pensar na forma de salvá-lo, usando tudo o que temos para ajudar o outro, até mesmo a benção da famigerada moeda da sorte. Todas as decisões que são tomadas em grupo e até as de seus próprios personagens, às vezes, passam por uma aprovação de cada jogador, pois cada atitude no jogo afeta o grupo como um todo e assim somos levados a considerar nossas ações para que possamos manter todos vivos (ou quase). Essa atividade, por mais boba e automática que seja, pode ser muito útil para estimular a visão de situações difíceis por outro ângulo que não seja o nosso e levar para vida.
Logo que comecei a jogar veio a pandemia e não era mais possível nos juntarmos presencialmente. Começamos então a nos reunir online via Roll20, o que muda bastante o cenário, ali contamos com mais recursos para ajudar na visualização e, uma das minhas partes favoritas, adicionamos uma foto ao personagem. Visualizar ele como token, faz com que ele seja mais presente, ajudando a dar personalidade e revelar suas características, tornando o processo muito divertido. O cenário que contém vários recursos visuais também ajuda e torna o RPG diferente daquele que a gente joga na mesa tendo apenas lápis e a imaginação.
No momento da pandemia, os jogos quase semanais possibilitaram continuarmos a campanha e explorar outras modalidades de RPG, permitindo a interação de todos nós, reclusos em nossas casas. Devo dizer que um dos modelos que mais gostei nessa época foi jogar a Arcana Primária no cenário Barrowmaze, uma aventura de exploração onde cada pedaço do mapa é oculto e você não sabe o que te aguarda, a parte boa é que você pode experimentar várias formas diferentes de morrer, seja devorado por ratos ou morto por uma múmia.
Eu diria que jogar RPG é uma ótima prática para socializar sem sofrer com assuntos dos quais não gostamos de participar. Por ser um ambiente neutro de realidade e com base num mundo e situações fictícias, permite com que você conheça pessoas e interaja com todos. O uso da criatividade para permanecer vivo e salvar seus amigos te faz, no final do jogo, se sentir bem. Criar estratégias e resolver rapidamente situações problemáticas que surgem sem aviso e, ao mesmo tempo, nos divertir com as situações fatais e rolagens azaradas são a essência do RPG pra mim.
por Priscila Chrispim, uma das testadoras da Arcana Primária
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